A maioria das mulheres
que optam por fazer uma dupla mastectomia depois de serem
diagnosticadas com câncer de mama não têm indicação clínica para fazer o
procedimento. Esta é a conclusão de um estudo americano publicado na
revista “JAMA Surgery” na quarta-feira (21).
A possibilidade de retirar as duas mamas após o diagnóstico de
câncer é apresentada principalmente a mulheres com histórico familiar da
doença ou com mutação genética que determina maior risco de o câncer
vir a aparecer nas duas mamas. Apenas para esse pequeno grupo há
evidências científicas de que a retirada dos dois seios prolonga a
sobrevida livre da doença. Mas, de acordo com a pesquisa, 68,9% das
mulheres que optam pelo procedimento não se enquadravam nesse perfil.
Pesquisas
anteriores mostram que, ao redor do mundo, a ocorrência da chamada
mastectomia profilática contralateral (MPC) – quando a mama não afetada
pelo câncer também é retirada como forma de prevenir o surgimento da
doença – tem aumentado, o que traz preocupações de que essa opção esteja
sendo adotada de forma indiscriminada.
“As mulheres parecem estar usando a preocupação em relação à
reincidência do câncer para optar pela mastectomia profilática
contralateral. Isso não faz sentido porque ter um seio não afetado
removido não vai reduzir o risco de reincidência no seio afetado”, diz a
pesquisadora Sarah Hawley, professora da Escola de Medicina da
Universidade de Michigan e uma das autoras da pesquisa.
O estudo avaliou 1.447 mulheres americanas diagnosticadas com
câncer de mama, com idade média de 59 anos. Do total, 7,9% optaram pela
retirada das duas mamas. Dentro desse grupo, 68,9% não tinham histórico
familiar de câncer nem tiveram um exame genético positivo para a
presença da mutação que determina um maior risco (BRCA1 e BRCA2).
Os autores do estudo destacam que a maior parte dessas pacientes
nem chegou a fazer o exame genético. Mas algumas delas, mesmo tendo o
resultado negativo para a mutação, optaram pela dupla mastectomia. De
acordo com os resultados, o medo do reaparecimento da doença observado
nas participantes foi um fator importante para a tomada dessa decisão.
“A taxa crescente da mastectomia profilática contralateral motivou
alguns cirurgiões a questionar se realizar uma operação extensa que não é
clinicamente indicada é justificável para reduzir o medo da
reincidência da doença”, afirma o artigo.
Tendência x riscos
Segundo o cirurgião Ruffo de Freitas Júnior, presidente da
Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), realmente houve um aumento no
número de cirurgias profiláticas da mama nos últimos anos.
Ele cita que, em muitos casos, além do temor de que o câncer
possa surgir na outra mama, as pacientes também levam em conta a
questão estética para tomar essa decisão. “Se a mulher tem uma mama com prótese e a outra natural, dificilmente se consegue uma boa simetria”, diz o médico.
Segundo Freitas Júnior, o caso da atriz
americana Angelina Jolie, que resolveu passar por uma mastectomia total
profilática por apresentar os genes BRCA1 e BRCA2, também contribuiu
para a popularização da prática.
Ele observa que a decisão final sobre fazer ou não o procedimento
profilático é da paciente, mas que o médico deve deixar claro todos os
riscos envolvidos.
De acordo com o médico, ao retirar uma mama saudável, a paciente
está aumentando seus riscos de ocorrência de infecção e de necrose.
Existe o risco, inclusive, de ter de retirar a prótese, caso haja
complicações. Além disso, é possível que haja a perda de sensibilidade
da mama, o que pode afetar a sexualidade. Ele lembra ainda que a
retirada total da mama reduz em, no máximo, 90% os riscos do
aparecimento do câncer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário