Os astronautas que forem a Marte poderão ser expostos ao limite de
radiação aceitável para um ser humano e talvez até mais, informou a
agência espacial americana (Nasa), nesta quinta-feira, que considera
esse tema fundamental para preparar uma missão tripulada ao Planeta
Vermelho.
Pesquisadores da Nasa analisaram a radiação medida por um instrumento
a bordo do Mars Science Laboratory (MSL), que transportou o robô
americano Curiosity durante seu voo da Terra até Marte, entre novembro
de 2011 e agosto de 2012, informou um relatório divulgado na revista
"Science".
"O nível de exposição à radiação que medimos está exatamente no
limite, ou talvez além do que seja considerado aceitável pela Nasa e por
outras agências espaciais para uma carreira inteira como astronauta",
disse Cary Zeitlin, do Southwest Research Institute, um dos autores do
estudo.
"Em termos de acúmulo das doses de radiação, uma viagem a Marte
equivale a se submeter a um scanner ou Tomografia Axial Computadorizada
(TAC) de corpo inteiro a cada cinco, ou seis dias", afirmou,
acrescentando que isso não inclui a permanência na superfície do Planeta Vermelho, onde a radiação pode ser significativa
de acordo com as proteções disponíveis.
O pesquisador ressaltou, porém, que "esses limites dependem da nossa
compreensão dos riscos associados para a saúde humana dessa exposição
aos raios cósmicos. E, por enquanto, essa compreensão é muito limitada".
"Compreender a radiação no interior de uma nave espacial que leve
tripulações a Marte e a outros destinos distantes é essencial para
preparar esse tipo de missão", completou Zeitlin.
Com base nas medições do instrumento a bordo do MSL e sem novos meios
mais rápidos de propulsão, os astronautas receberiam a maior parte da
radiação durante o voo de regresso a Marte, explicaram os cientistas - o
correspondente a 662 milisieverts (mSv).
A Nasa avalia que a exposição de um astronauta à radiação não pode
ultrapassar os 1.000 mSv ao longo de sua carreira, pois poderia aumentar
de 3% a 25% o risco de morte por câncer.
A probabilidade "normal" de morrer de câncer na população em geral é
de 22%, aproximadamente, disse à AFP Stephen Davison, responsável pelo
programa de Ciências Biológicas do Espaço da Nasa.
No espaço, os astronautas estão expostos a dois tipos de radiação: os
raios cósmicos galácticos e as partículas que emanam do sol.
Os raios cósmicos estão dotados de uma energia muito alta, que não é
contida pela proteção, com a qual as naves espaciais atualmente em
desenvolvimento estão equipadas. Esse tipo de proteção pode ser,
contudo, um escudo eficaz contra as partículas solares, em geral com
muito menos energia, destacou Zeitlin.
A intensidade da radiação solar varia com o ciclo de atividade do sol, baixa durante o voo do MSL.
Para Robert Zubrin, um engenheiro nuclear que preside a Mars Society,
"os resultados desse estudo mostram que a radiação não é um obstáculo
insuperável" para uma missão tripulada a Marte.
"Isso confirma que o risco vinculado à radiação é aceitável", avaliou.
"Francamente, a radiação representa apenas uma pequena parte do risco de uma missão a Marte", disse o cientista.
Fonte: http://noticias.terra.com.br/ciencia/espaco/viagem-a-marte-pode-expor-astronautas-a-perigosas-radiacoes,70f4df70a20fe310VgnCLD2000000ec6eb0aRCRD.html